Resenha: A menina que não sabia ler - John Harding



Título: A menina que não sabia ler
Título Original: Florence and Giles
Autor: John Harding
Tradução: Elvira Serapicos
Editora: LeYa
Páginas: 282

Há tanto para eu comentar sobre esse livro, mas eu nem sei por onde começar. Achei a capa e o título interessantes no primeiro instante em que o vi na livraria, e a sinopse só aumentou minha curiosidade. Por algum motivo, nunca mais o vi na livraria, por isso não sei dizer quanto demorou até que eu finalmente o reencontrasse e, é claro, comprasse. Terminei de ler no ano passado, e até agora estou tentando concluir uma opinião, e é isso que espero conseguir fazer até o final deste post.
Em uma distante e escura mansão, onde nada é o que parece, a pequena Florence é negligenciada pelo seu tutor e tio. Guardada como um brinquedo, a menina passa seus dias perambulando pelos corredores e inventando histórias que conta a si mesma, em uma rotina tediosa e desinteressante. Até que um dia Florence encontra a biblioteca proibida da mansão. E passa a devorar os livros em segredo. Mas existem mistérios naquela casa que jamais deveriam ser revelados. Quem eram seus pais? Por que Florence sonha sempre com uma misteriosa mulher ameaçando Giles, seu irmão caçula? O que esconde a Srta. Taylor? E por que o tio a proibiu de ler? Florence precisa reunir todas as pistas possí­veis e encontrar respostas que ajudem a defender seu irmão e preservar sua paixão secreta pelos livros – únicos companheiros e confidentes – antes que alguém descubra quem ousou abrir as portas do mundo literário. Ou será que tudo isso não seria somente delí­rios de uma jovem com muita imaginação?
Narrado em primeira pessoa, conhecemos a jovem Florence, uma criança negligenciada por um tio e tutor que nunca conheceu, órfã, morando em uma casa escura e, segundo lendas, assombrada, tendo apenas o irmão mais novo, Giles, e empregados por companhia. Nesse cenário, não é surpreendente que a pobre garota ficasse entediada, é claro. Por sorte, um dia ela conhece a biblioteca da casa, que lhe era proibida de qualquer forma, pois seu tio nunca permitira que ela aprendesse a ler. Mas, o desejo de desvendar os universos secretos encerrados dentro daquelas páginas é tão grande que, com pouquíssima ajuda, Florence aprende a ler por mérito próprio e começa a devorar os livros da biblioteca, sempre em segredo.

Isso me leva a um comentário que preciso fazer: o título, que foi absurdamente mudado e, em meu ponto de vista, perdido na tradução. Talvez tenha sido, como outros já sugeriram e eu também creio, uma estratégia de publicidade para pegar carona no sucesso de nome parecido, "A garota que roubava livros". A mudança, porém, me parece ruim. Florence aprende a ler no começo do livro, inclusive, esse é um dos impulsionadores dos acontecimentos seguintes. Além disso, a história é essencialmente sobre os dois irmãos, e teria sido mais coeso traduzir o título original ao invés de mudá-lo por propaganda.

No final, muitas coisas ficam sem respostas, é fato. Creio que qualquer pessoa que ler ficará com dúvidas. O fato é que, por estarmos olhando do ponto de vista de Flo, fica difícil separar o real do imaginário. A única certeza que se pode ter, é o seu amor pelo irmão. É um amor absurdo; não há melhor palavra para definir.

Florence, não devemos esquecer, foi muito negligenciada e só Deus sabe quais são os referidos "problemas com a mãe de Giles" que aconteceram, por exemplo. É difícil julgá-la, embora durante a leitura seja inevitável. O perfil psicológico dela fica bem delineado, embora sua perspectiva nos confunda em alguns momentos, especialmente no final. Determinada, ela tenta desesperadamente salvar as únicas coisas que tornam sua vida melhor: Giles e os livros. E, em seu desespero, cativa o leitor e os outros personagens. Mas até que ponto ela viu a verdade? A partir de que ponto a fantasia corrompeu a chamada realidade dela? É impossível dizer com certeza.

Novamente, a leitura impulsiona o leitora a virar as páginas à procura de respostas, mas o final se perde um pouco na confusão. Você experimentará aflição, perplexidade, talvez até certo medo com o livro, o que eu considero um bom sinal. O único problema em geral, é que o final acontece muito rápido e faltam respostas – embora isso provavelmente tenha sido o propósito do autor, que pode se justificar no título original "Florence and Giles", pois são os dois que importam e pronto (lendo vocês entenderão isso melhor). Se algumas perguntas tivessem sido respondidas, talvez o livro chegasse a ser ótimo, mas infelizmente não é o caso. Ainda assim, é uma leitura interessante, especialmente se você gosta do gênero. E, sem dúvidas, é uma história NADA clichê - confie em mim. Vale à pena ler e tirar as próprias conclusões, porque, sinceramente, é um livro difícil de ser explicado.

Atualização (08/12/12): Apenas para retificar-me, ao ler A menina que roubava livros, você pode até entender o paralelo entre as duas histórias, o que torna o título menos absurdo. Ambas (Florence e Liesel) têm um amor extremo pela leitura, que as coloca em determinadas situações. Ainda assim, não foi uma escolha muito feliz, uma vez que precisa-se fazer essa inferência para entender o título. Ainda ficaria com o original.
Citação: "A neve perfeitamente branca, a gralha preta como uma mancha no lençol recém-lavado; pela primeira vez compreendi que não havia nada inteiramente bom e nada inteiramente ruim, que cada página tem uma mancha, e, por essa mesma razão, eu esperava todas as noites sombrias por uma pequena luz brilhante. Isso me deu esperança." (p. 48)
Avaliação: ★★★☆☆ (Bom)
Share on Google Plus

About Anna Laitano

6 comentários:

  1. É muito curioso ficar observando as traduções dos títulos. Outro dia mesmo eu dei uma olhada na Wikipedia e vi que "O Morro dos Ventos Uivantes" em Portugal é "O Monte dos Vendavais"... Prefiro a versão brasileira: parece-me mais poética e mais precisa!

    Essa mudança dos títulos acontece muito no cinema e até com bons resultados. Mas infelizmente há esse lado comercial de querer vender os livros como se fosse sabão em pó, soprando ao nosso ouvido que o que as editoras fazem é ótimo, mas que no final das contas elas querem o nosso $$$...

    Quanto às perguntas sem respostas, deve ser proposital mesmo. E é bom, porque estimula a reflexão. Eu me lembro de uma passagem de "Crime e Castigo" que fiquei ruminando, ruminando, esperando alguma solução posterior, que não veio. Às vezes pode ser gancho para alguma continuação... (oh, no!)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É realmente curioso, tive algumas aulas sobre as traduções de títulos, na faculdade. Alguns são realmente muito modificados para vender mais, e eu não tenho nada contra isso. Em alguns casos, como você citou, até ficam melhores mesmo. Mas acho que em outros casos (como no desse livro) perde o sentido da história, sabe? É puramente marketing, e disso eu discordo, porque não acho justo com a história e com o escritor.

      As perguntas sem respostas até são legais, pois te levam a pensar mais na história, mas muita gente não gosta de finais abertos assim. Nesse caso, não acho que seja gancho para uma continuação, mas quem sabe, né?

      Excluir
  2. Oi Anne, Adorei a Resenha e agora estou super ansioso e curioso para ler o Livro da Menina que não sabia Ler. Vou colocar nas minhas metas deste ano :D

    Quanto as traduções dos títulos, realmente, as vezes eles fogem muito do padrao, não só de livros mas de filmes também. Por exemplo, O livro " A mulher do viajante do tempo" foi traduzido correto do inglês, já no filmes eles Cag*%am na tradução e usaram " Te amarei para sempre".

    Enfim, acho que na maioria é jogada de Marketing tanto para livro quanto para filme, assim vende melhor.

    PS. A citação do Livro da Pag 48, me fez lembrar da "menina que roubava livros" :D

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Johny, fico feliz que tenha gostado! Sem dúvida, o livro é interessante. É diferente e te deixa pensando sobre a história, sabe?

      Realmente, quando eu vi pela primeira vez o nome do filme, nem associei com o livro na hora. Aliás, essa mudança é uma pena, porque o livro tem um nome original, né?

      E eu ainda não li A Menina que Roubava Livros (por isso, não posso dizer se os dois realmente têm alguma semelhança), mas está na minha meta deste ano :)

      Excluir
  3. Tenho muita vontade em realizar a leitura desse livro.
    Amei a resenha.

    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É no mínimo um livro interessante. Bastante diferente de tudo que eu esperava e do que eu já li. Só não tenho certeza em relação ao final... Mas li super rápido, porque é um livro que te prende.

      Excluir

Quer fazer um comentário sobre esta postagem?
Adoraríamos ouvir suas opiniões, não tenha vergonha de compartilhá-las!